domingo, 9 de dezembro de 2012

Velhinhos e seu cachorros
Amigo e seus amigos
Metade e sua metade
nas ruas
no domingo
de manhã
por que não podemos ser sozinhos?
Se sozinho por escolha
Não se corre mais o risco
da solidão.


É abrir-se
Entregar-se
para o outro preencher
Consigo
É tonar-se um ser mais completo
complexo
É tornar-se mais humano

De volta a realidade. Você me acordou. Impôs amarras e limites ao que, por natureza,  não se pode controlar, a o que não tem bordas.
Libertei minha subconsciência, me deixei levar. Preenchi todo o vazio com fantasia. Mascarei toda dor. Feito teatro de marionetes, de uma história de amor e cumplicidade, pra qual só eu era espectador.
Meus olhos viam, mas não enxergavam. E só depois de acordar, percebi que havia algo errado no sonho.
Pensei ter encontrado alguém, pensei ter me livrado da solidão. No final era só eu. E minha ilusão.
"O amor é uma doença." Não concordo. O amor é uma droga, e só surge efeito nos fracos. O encanto está em dar o que se deseja, no que se acredita. Agora só me resta a abstinência.



domingo, 4 de novembro de 2012

o que eu sinto não é meu.
o que eu acredito não existe.
o que eu penso me foi dado
por verdades irreais.
nada é meu,
e eu não sou eu,
apenas os instintos animais.
sentir nos foi empurrado
por românticos burgueses adolescentes.
embora meu amor, ilusão
afeto que não sentes,
tens o sua própria crença:
ao negar a humanidade,
de ser menos humano.
o lugar em que vivo não me pertence,
não são minhas as coisas que eu lavo, quebro, organizo.
os amigos que tenho não me conhecem,
não sabem o quanto omito com um sorriso.
o que leio não me convém.
o que eu faço não me realiza.
pensamento no automático
coisas que preenchem o vazio

não sei de quê...




quarta-feira, 3 de outubro de 2012

os meus pés descalços não encontram o chão
a luz do sol sempre recortada
por prédios, por barras, por pó
o ar e a comida me adoecem
a cidade é uma cela
que me prende do mundo.




o sorriso quando deito do seu lado
o carinho até os meus olhos pesarem
o olhar que me vê no restaurante barato
o iogurte e granola na cama de manhã
frases ditas pra me fazerem rir
opiniões honestas, delicadezas
gestos de bondade
gente de verdade
e entrelinhas avessas
ou será você 
as entrelinhas?





terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eu tenho em mim tudo o que preciso para ser feliz.
Eu encontrei em você tudo o que preciso para ser quem sou.
amar é estender-se
é intensificar-se
é encontrar em alguém terreno fértil
pra crescer e florescer a alma.
é também enraizar-se
absorver o outro e incorporá-lo.
quanto mais se ama
mais se enaltece
mais se tem de onde nutrir-se
até dar frutos e semear outras almas.




quarta-feira, 22 de agosto de 2012

eu não sei quem você é
nem como chegou até aqui
não passou pelos portões
pelas pontes levadiças
foi sorrateiro se aproximando
não disse suas intensões
e eu só espero que você continue entrando.



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Dizem que no amor e na dor
todo homem é igual
Esquece das razões
Vira animal
Mas eu já acho
que nos dias de hoje
tanto nos deificamos
que é no amor e na dor
que lembramos que somos
apenas humanos.




Eu entendo
os safados
os cachorros
as amantes
as galinhas
os ficantes
os aventureiros
os errantes
Aqueles que vivem as paixões
às paixões
sem [pré]conceito
nas entrelinhas


Não vejo sentido no que escrevi.
Não vejo sentido em escrever.
As coisas que eu escrevo
estão fadadas à divagar.
Escrevo-as pra mim
São todas sobre mim
e sobre o que eu sei
E eu nem sei quem sou.

sábado, 4 de agosto de 2012



Tem amores e amores
Tem amores de sabores
Tem quase amores
Tem desamores
Tem amores homeopáticos
Que tomados em doses diárias
Previnem futuras dores.



duas vidas que se sabotaram
decididas do exílio
reerguidas dos destroços
reparam minhas ruínas
em comunhão.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012


me da a deixa
deixa eu provar
como eu te quero
deixa eu tentar
te convencer
não tem que temer
compromisso, fidelidade
é só pra passar a vontade
que me mata a curiosidade
de como vai ser
te beijar




Eu sei que é egoísmo, num momento desses pensar em mim. Mas é que com as lembranças do que fomos e do que foi, dói aos nervos a disparidade do que é, do que me tornei. Da encruzilhada que dividimos à estrada que eu escolhi, perdi o sentido. Nem sei mais pra que caminho. E você, tomou atalho, foi direto pro Destino. Disparate, é verdade. Entretanto, me pergunto, como você foi embora sem me perguntar se eu queria ir junto?


quarta-feira, 1 de agosto de 2012


um quarto de apartamento
da cadeira, na minha frente
aperta, amassa, umedece
sorri de lado, da um trago
e eu na cama imaginando
o que seria de você
se me quisesse

quanto mais eu tenho, mais eu devo.  
quanto mais eu dou, menos querem.
não vale conquistar, pra não decepcionar.
não quero saber dessa tal moeda
em que apostam tanto todas as fichas
penhoram sonhos
gastam o tempo
cobram do outro
o que perderam
esse negócio
que precisa de contrato
pra não prejudicar
não quero saber desse mercado
da pressão de desigualar
não quero essa vida de apostador
não vou me meter com esse tal de amor.





este elo, antes de aço
ferrugem pela mesquinhez
diluído em cloro e choro
me rasga a pele feito parafuso
e se era amor que recebia
em meio a sangue latejante
carne talhada, fibra distendida
saio com dor do sal das lágrimas na ferida
e tétano

lua cheia
praça vazia
sorriso de lado
olhos vermelhos
boca de vinho
o abraço que comporta o peso da minha alma
a vista turvada pelos beijos de fumaça
e o silêncio de quem entende
que se não cabe em nós
cabe no céu

Irrompi as ruas destinada. Com pressa, passos largos e fôlego curto. E então as cores chamaram minha atenção. Uma lojinha indiana na promoção. Não resisti e entrei esperando que aquelas cores todas de alguma forma contaminassem o meu dia. Explorei cada tom, cada estampa. Corri os dedos pelos tecidos. Parecia produzir um arco-íris. E no meio de tanta coisa encontrei algo que me lembrou de alguém. Um presente. Um presente pra uma pessoa querida. E enquanto me dirigia ao caixa, imaginava o sorriso, a surpresa, o abraço tímido de um menino crescido desacostumado a receber presentes.
De volta ao meu caminho, a lembrança virou saudade. Uma condição me reprimiu: a distância. Lembrei que demoraria a vê-lo, que teria de guardar o presente. Lembrei que não o verei tão cedo. E continuei o meu caminho pensando no que eu fiz, segurando firme o pacote brilhante. A verdade é que eu sabia que não conseguiria dá-lo tão cedo. Eu sabia que o guardaria por muito tempo, acumulando a poeira dos meses.  A verdade é que eu queria tocar, sentir algo material, um pedaço de qualquer coisa que condensasse as lembranças e abrandasse a saudade dele.

terça-feira, 31 de julho de 2012


não tem kit primeiros socorros
não tem banco flutuante
não tem barco salva-vidas
bote, boia, airbag
nada mais sensato
que ter medo de cair de cabeça no amor




Parei. Tentei imaginar como eu seria se resolvesse todos os meus problemas. Vi outra pessoa. O fato é que cada um tem os problemas que merece. As pedras que vêm com o caminho que escolhemos.

Antes de mais uma noite mal dormida, deitada na cama, fechei os olhos e rezei. Pedi pra o que quer que fosse capaz de me ouvir, supliquei. Implorei por um susto, um choque da cafeteira elétrica de manhã, um prato que se quebrasse sem querer.  Um tombo na rua de alguém que me fizesse rir, ou um tombo meu que me fizesse chorar. Fui mais longe e pedi por um abraço inesperado, por um olhar que se cruzasse com o meu e sorrisse por um instante. Pedi por algo que me fizesse mexer por dentro, pra ter certeza de que não está vazio por lá. 

Foram seus olhos de ressaca que me fisgaram. Ressaca pura, de noite mal dormida tentando esquecer da vida. Pra rir do que te machuca e fazer o que te repulsa. Pra vermelhar os olhos de outra coisa que não lágrimas. Esses olhos fundos que me enxergam, semiabertos. Eu vejo o mundo neles, o mundo onde eu quero ficar. Eu me vejo através deles e me gosto. Refugio-me neles e, quando eles transbordam, lembrando da realidade, é como se a gravidade invertesse e o mundo me repelisse. 

As vezes eu deixo as coisas fora do lugar, as janelas e as cortinas fechadas, o incenso aceso. A bagunça, o perfume e a penumbra preenchendo o vazio, me fazendo companhia.

Eu sinto falta de sentar na grama num dia quente de sol  e de ela responder pra mim, pinicando, fazendo cócegas. Tenho saudades de pés na terra, de afogar os dedos, de pisar macio. De andar nas pedras do rio, da massagem que elas me fazem. De nadar em águas correntes, de ficar por lá, enquanto elas me tiram pra dançar com elas. Do peso da cachoeira nos meus ombros, arrancando de lá todo o resto. De gritar bem alto e de resposta receber os cantos das cigarras. Eu tenho saudade do mundo real, do mundo que vive, que respira e que te recebe. Do mundo escondido debaixo do concreto.


segunda-feira, 30 de julho de 2012


A realidade é bruta. A vida é dura. A verdade é crua. A escolha é sua.

Agora eu entendo, não concordo, mas entendo porque você se deixou levar por tantos anos. Não foi fraqueza, não foi por teimosia, por não querer dar o braço a torcer. Não era esse o problema. Você se deixou levar porque não podia se levar sem ajuda. Agora eu entendo. Não faria, mas entendo. 

Me pergunto quantos anos eu preciso viver os erros dos outros pra saber o que é certo pra mim.

Eu queria não ter que precisar escolher entre ser o que eu sou e ser o que os outros querem de mim.


Podar suas raízes. Deixar as bases e continuar seu caminho como que levitando, em suspensão, a procura de uma nova base pra se apoiar.
Existe essa transição, entre bases, flutuando no espaço vazio. Como uma semente que se desgarra da flor, a procura de terra fértil. A procura de algo que não se sabe o que é, de um lugar que não se conhece. A espera de que algo aconteça, de que um vento ajude. Percebo que o que antes era meu não precisa mais de mim, nem mesmo da minha lembrança, e aquilo  que eu devia conseguir por natureza, talvez não seja pra mim. Quando a força e a vontade se esgotam e a realidade se torna tão absurda que o fechar dos olhos, um sonho, é o único lugar onde encontro sentido pra tudo. O caminho de volta não existe mais. Desistir não é uma opção. Não há o que se alcançar. E a transição se torna mar

Todos nós precisamos dos outros, eu sei. Precisamos de pessoas para fazerem nossas roupas, nossa comida, nossas casas, nossos caminhos, e também companhia. Eu gosto das pessoas. De vê-las nas ruas, ocupadas, andando determinadas como se andassem direto para seus objetivos. De vê-las com a família, amigos, sorrindo, como se nunca tivessem sofrido. Eu sinto falta de pessoas. Mas do que de pessoas, eu sinto falta da ligação que só elas conseguem fazer. Só outro ser humano pra entender um ser humano. Eu preciso de pessoas. Mas existem tantas pessoas, que talvez elas não precisem de mim. A humanidade é tão grande, e o que eu tenho pra oferecer? A falta de pessoas a minha volta me diz: não muito. Queria ser mais humana, acho que quanto mais humano alguém é, menos medo ele tem de ser humano. Parece bobo, mas não é. Eu tenho medo de ser humana, de falhar, de ser chata, de chorar, de depender. Tenho medo de decepcionar. Eu queria alguém que gostasse de mim como a humana que eu sou. Porque além de gostar das pessoas em cena, nas ruas, eu gosto de imaginar no ator por traz delas. Nos motivos, nos anseios. Qual o sentido então do meu medo de ser identificada por elas, enxergada por elas? Tudo isso é porque eu gosto das pessoas, e eu tenho medo que, se eu fechar as cortinas, se eu me mostrar humana, eu seja humana demais.

Mais uma noite sem dormir. Tenho sono, mas também tenho no que pensar. As falsas certezas foram dando lugar as dúvidas sem respostas, que foram dando lugar ao desespero. Estou fazendo a coisa certa? As vezes penso que é por falta de religião, falta de Deus. Seria mais fácil se eu acreditasse em alguma coisa? Independente da religião, os que acreditam parecem mais bem resolvidos, as certezas e verdades da vida foram definidas pra eles. Não seria melhor então que eu acreditasse em mim? Na minha capacidade? De resolver problemas, de seguir em frente, de melhorar. Mas não faço nada. Nem mesmo o que eu deveria gostar de fazer, ou estar fazendo por princípios que eu mesma determinei. Talvez eu só não queira fazer. Não quero começar, porque sei que não vou terminar. Não por medo de errar, de ficar ruim, de me decepcionar, mas por medo de terminar sim, mas sozinha. Não só sozinha de gente, de amigos, de amor, mas sozinha de sorrisos, de instantes, de prazeres. Fazer por fazer, não quero. Talvez falte pensar no futuro, a longo prazo. Mas, vale a pena pensar no futuro? Será que pensando num futuro não vou viver pela metade o presente do futuro? Não quero viver pela metade esse presente de agora. É imediatismo, eu sei. Mas mesmo com poucos anos pra contar, vejo que nunca questionei o que  fazia, porque fazia. Sempre me precavi, me abstive. Ignorei tantas vezes minhas vontades, meus instintos da juventude, que aos poucos me tornei incapaz de percebê-las, ou senti-las. Enquanto sento na prancheta o sangue para de correr em minhas veias, enquanto compro um café na lanchonete da esquina já sinto a ulcera que esse vício vai me causar. Enquanto janto mais um miojo sozinha no meu quarto em frente ao computador e não sinto a diferença entre aquilo e borracha, a minha vida se vai. “Ainda sou jovem” deveria pensar, mas a juventude não é sinal de vida pela frente. Essa certeza ninguém tem, nem mesmo os religiosos. A juventude pode ser sim, sinônimo de vida vivida. De não temer a morte. Eu não temo a morte, mas temo esse estado de transição. Essa vida entorpecida, sem sentido, sem significado pra quem a vive. Sem motivo. Temo ter vivido comigo mesma por pouco tempo pra já ter desistido de mim. De não me conhecer, por nunca ter me permitido ser eu mesma. Há esperança, entretanto, se eu não gosto de mim agora, quando eu for mesmo eu, talvez eu seja uma melhor companhia.

Você não é muito bonito. Não é muito inteligente. Não é muito engraçado. Se me falassem de você, eu não ia te dar nada. Mas com você por perto, eu nem preciso, você pega de mim, sem pedir com educação.

Eu tenho tantas coisas pra perguntar pra você. Tantas coisas que eu queria te dizer. Tem tanta coisa que eu queria fazer com você. Eu planejo tanto. Aí você chega, e me responde errado, vazio, e o meu cérebro congela.